Imagine por um segundo seus olhos fora do seu corpo, vendo você, de dentro, por fora, para dentro.
Conhecendo o âmago do seu coração. Tendo o mapa dos seus desejos, dos seus medos e do seu ódio escondido – do seu ressentido sentir – da potência perdida, de sua alma iludida.
Imagine por um segundo, que os anjos estariam bem perto de você, escutando seus pensamentos – imagine que você não mais pode esconder a sua intenção – que eles percebem seus atos como eles são.
Que seus gestos sacros perderam o significado vazio que você acreditou que detivessem – imagine por um segundo – que o “o sinal da cruz” ante as cruzes não serve mais para ludibriar a si mesmo. Imagine um pouco mais. Que a podridão em suas mãos não se torna mais leve por causa das suas mentiras – que a humilhação infligida ao que pede, em sua falsa negativa, não pode mais ser escondida.
Imagine por um segundo que suas palavras, más e mesquinhas, não se tornam menores por uma hora passar sob a casa do Senhor, gozando da liturgia e dos signos abençoados – e os anjos, do seu lado, estupefatos estariam, por não compreenderem essa tão grande letargia.
Por favor, imagine, por um segundo, que todo o mal e toda a sujeira que suas práticas insistem em menosprezar – que toda a dor que você insiste em causar, ai dentro, tende a continuar, pelo fingimento que a Cristo, você finge orar.
Imagina por um segundo que todos enxergamos sua falsidade, como o belo sepulcro, que bem adornado está, mas putrefato insiste em permanecer.
Só por um segundo, tente imaginar, que por mais que você tente, sabemos quem e como você é o que é... e que sua alma, para o mundo, insiste em parecer, mas para os olhos dele... simplesmente é.
Ao escutar que não havia amor maior do que o do pai para seu filho, algo não tomou forma – mas já era esperado.
Algumas palavras fomentam a não definição, por definição – a não definição é a definição.
Assim é o amor. Amor de um pai, que ama, para com seu filho. Mas alguns outros não amam? Não há um amor universal para todos? Nem todos os pais amam? Ou existem vários amores, com vários sabores?
Não seria possível responder. É impossível saber.
Então, logo... o que nos caberia dizer? Sentir seria o suficiente... mas sem amor... com esse dissabor, o que nos restaria? A Ausência de amor, o que nos traria? Acalantaria os riscos e arranhões do mundo... nos livraria de sua antítese?
A dor... aquela de milhões... indefinível sob demanda... mas palpável por todos os dias e em todos os momentos, por todos nós – em todos os nossos momentos de... dor.
Mas o amor, quando ausente, se aproxima do cristal que se quebra... que racha a cada segundo... que se acumula até quebrar... essa é a dor que não se deseja o limite... que seu provir se desconhece... que não interessa o por vir...
O que sabemos dos seus contrários, a não ser senti-los por todos os dias... ou um ou outro... ambos... sem ordem definida... eterna e tautocronamente... sempre... e para sempre...
Definindo quem somos, o que somos e como amamos... o que amamos e o que não amamos... a liberdade de amar... a liberdade de doer... de quebrar e de consertar... viver.
e.k.
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Os demônios estão todos presos
Parasitando uma alma já destruída e cansada
Algo feito uma simbiose... sem parasitas; algo como companhia – uma presença turva e sem nome – que não pode ser nominada.
Nada mudou a completude da compreensão que se move por espaços vazios, doloridos e inúteis – que parecem lembranças – que atuam como lembranças – que são lembranças.
O sabor negro e amargo que desconsidera o tempo, que imputa crimes – que os julga, que os condena e que os pune.
Um lugar em que nada está – uma ausência completa de tudo – uma completa experiência de negação do que pode ser real.
Um desejo pelo toque... pela conexão pelos sentidos – para a luz.
Falsas faces que caem e que caem e que caem.
Um olhar através do tempo... da busca pelo alento... do medo... do fim.
e.k.
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